Poesia Marginal, com maiúsculas ou minúsculas? Essa poesia dita marginal, praticada em escala nacional na década de 70, nunca formou um grupo coeso e coerente, uma frente, uma vanguarda. Refere-se a um fenômeno artístico, literário e cultural específico dum país regido, dirigido sem o conceito de democracia, apesar deste conceito albergar muita mentira; os caminhos da “liberdade”, apesar de menos procurados, estão mais “acessíveis”. A vontade de expressar-se aumentou terrivelmente. Mas o que poderiam fazer os poetas nos 70, poetas novo, poetas sem insígnia ainda? Fizeram uma subversão do esquema de produção estabelecido. Como? A faceta mais famosa desta poesia é aquela na qual livrinhos feitos em mimeógrafos, distribuídos ou vendidos com preços simbólicos, permitiam um contato efetivo do poeta com o leitor, uma aproximação real, ao contrário dos poetas de permanência, em grandes editoras. Talvez por isso Marginal, uma afirmação contrária aos moldes pré-estabelecidos, um humanismo que não existe no capitalismo.
E a tal da poesia Marginal, tal qual quer boa parte da critica, talvez não tenha mesmo inovado na forma de fazer poesia no universo, e nem quiseram, porém inovaram ao vivenciar o processo de distribuição. Mas a poesia dita marginal foi mais. Além dos mimeógrafos, alguns poetas imprimiam em gráficas, lançavam revistas, livros, inclusive nas editoras convencionais, e em coleções como: Frenesi, Invenção, Nuvem Cigana, Violão de Rua, Navilouca, Almanaque Biotônica Vitalidade, eis alguns nomes de revistas e coleções. No primeiro almanaque Biotônica, o poeta carioca Charles, num poema manuscrito, sintetiza muito do espírito “marginal”: “na festinha xic paparica-se o artista / na rua o escracho é total / a sabedoria tá mais na rua que / nos livros em geral / (essa é batida mas batendo é que faz render )”. Neste trecho, sente-se bem o clima que vivenciavam, traziam para os poemas as experiências de vida, e levavam para vida experiências poéticas.
Paulo Leminski, marginal (bandido que sabe latim), sintetiza o “Ser” da poesia marginal: “marginal é quem escreve a margem / deixando branca a página / para que a paisagem passe / deixando tudo claro a sua passagem / marginal escrever na entrelinha / sem nunca saber direito / quem veio primeiro / o ovo ou a galinha.”.
Importante ressaltar que muitos dos poetas “marginais” estavam estudando ou lecionando em universidades, pra deixar claro que essa marginalidade não consistia em condições socioeconômicas ou fatos criminosos (não sei por Platão e pela ditadura). Marginal significa uma saída ao sufoco da repressão, (ironia, humor, cotidiano poetizados, uma atitude de vida), ou seja, não limitarmo-nos com a felicidade imposta. Dissolução, dissidência, exploração de fronteiras, fragmentação, comportamentos descolonizados, eis temas frequentes neste fazer poético. Nomes como Paulo Leminski, Chacal, Waly Salomão, Torquato Neto, Ana Cristina César, Nicolas Behr, Cacaso, Isabel Câmera, Ronaldo Santos, Roberto Schwarz, Pedro Marodin, são muitos dos que atualmente estão sendo resgatados em novas edições. Obras completas, estudos críticos encontram-se disponíveis, atualizando e fazendo reacender o devido espaço que esta geração merece entre nós.
«Mãe, só tinha dinheiro pro spray». Pichada em algum muro, alguém sabe o autor? Esta frase aparece num especial de TV, dedicado ao poeta Paulo Leminski. Resume o que o próprio Leminski pensava sobre essa poesia. O gesto é interessante, o processo, a idéia, embora o produto raramente. Sim, numa ditadura isso é até certo ponto válido, o que importa é passar a mensagem, mesmo simplificando, desde que contenha atitude.
Tanto faz as iniciais maiúsculas ou minúsculas. A marginalidade entendida enquanto recusa do que vige, sempre perpassou toda Poesia.
Aquela ditadura acabou, porém a mídia, massificadora, impõe outra ditadura. Poetas, à margem...
Isaac Newton, acadêmico do curso de Letras da FAFIUV
E a tal da poesia Marginal, tal qual quer boa parte da critica, talvez não tenha mesmo inovado na forma de fazer poesia no universo, e nem quiseram, porém inovaram ao vivenciar o processo de distribuição. Mas a poesia dita marginal foi mais. Além dos mimeógrafos, alguns poetas imprimiam em gráficas, lançavam revistas, livros, inclusive nas editoras convencionais, e em coleções como: Frenesi, Invenção, Nuvem Cigana, Violão de Rua, Navilouca, Almanaque Biotônica Vitalidade, eis alguns nomes de revistas e coleções. No primeiro almanaque Biotônica, o poeta carioca Charles, num poema manuscrito, sintetiza muito do espírito “marginal”: “na festinha xic paparica-se o artista / na rua o escracho é total / a sabedoria tá mais na rua que / nos livros em geral / (essa é batida mas batendo é que faz render )”. Neste trecho, sente-se bem o clima que vivenciavam, traziam para os poemas as experiências de vida, e levavam para vida experiências poéticas.
Paulo Leminski, marginal (bandido que sabe latim), sintetiza o “Ser” da poesia marginal: “marginal é quem escreve a margem / deixando branca a página / para que a paisagem passe / deixando tudo claro a sua passagem / marginal escrever na entrelinha / sem nunca saber direito / quem veio primeiro / o ovo ou a galinha.”.
Importante ressaltar que muitos dos poetas “marginais” estavam estudando ou lecionando em universidades, pra deixar claro que essa marginalidade não consistia em condições socioeconômicas ou fatos criminosos (não sei por Platão e pela ditadura). Marginal significa uma saída ao sufoco da repressão, (ironia, humor, cotidiano poetizados, uma atitude de vida), ou seja, não limitarmo-nos com a felicidade imposta. Dissolução, dissidência, exploração de fronteiras, fragmentação, comportamentos descolonizados, eis temas frequentes neste fazer poético. Nomes como Paulo Leminski, Chacal, Waly Salomão, Torquato Neto, Ana Cristina César, Nicolas Behr, Cacaso, Isabel Câmera, Ronaldo Santos, Roberto Schwarz, Pedro Marodin, são muitos dos que atualmente estão sendo resgatados em novas edições. Obras completas, estudos críticos encontram-se disponíveis, atualizando e fazendo reacender o devido espaço que esta geração merece entre nós.
«Mãe, só tinha dinheiro pro spray». Pichada em algum muro, alguém sabe o autor? Esta frase aparece num especial de TV, dedicado ao poeta Paulo Leminski. Resume o que o próprio Leminski pensava sobre essa poesia. O gesto é interessante, o processo, a idéia, embora o produto raramente. Sim, numa ditadura isso é até certo ponto válido, o que importa é passar a mensagem, mesmo simplificando, desde que contenha atitude.
Tanto faz as iniciais maiúsculas ou minúsculas. A marginalidade entendida enquanto recusa do que vige, sempre perpassou toda Poesia.
Aquela ditadura acabou, porém a mídia, massificadora, impõe outra ditadura. Poetas, à margem...
Isaac Newton, acadêmico do curso de Letras da FAFIUV
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