sábado, 13 de março de 2010

A figura da mulher nas obras de Álvares de Azevedo - urtiga! 10

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Álvares de Azevedo é popularmente conhecido como o poeta que cantou a morte. Muitos estudos, desse modo, são realizados perante tal perspectiva. Um ponto marcante e, todavia pouco explanado, é a figura feminina que permeia, constantemente, os seus versos.
Infelizmente, não se sabe muito a respeito da vida sentimental do poeta. Segundo Junior (1971), esse assunto é um capítulo vago, confuso, nebuloso. Muito se diz a respeito, mas não há uma afirmação que se sobressaia das demais. As únicas provas da vida amorosa se encontram na sua vasta obra e nas poucas cartas direcionadas à mãe e aos parentes mais próximos. O intrigante é que ambas se contradizem.
Muitos biógrafos alegam que Álvares morreu tão virgem quanto nasceu. O que torna ainda mais surpreendente o modo pelo qual ele descreve a mulher em suas poesias: «Em frente do meu leito, em negro quadro / a minha amante dorme. É uma estampa / de bela adormecida. A rósea face / parece em visos de um amor lascivo / de fogos vagabundos acender-se... / e com a nívea mão recata o seio» (Idéias Íntimas- VII). Assim, até que ponto a vida particular do poeta influenciou a sua produção literária?
Para José Veríssimo, esse amor «é mais um desejo de amar, a aspiração por uma mulher idealmente amada, que uma paixão verdadeira e pessoal». No entanto, mesmo que uma parte considerável de sua obra designe as mulheres por anjo, virgem, mãe, irmã, podemos também encontrar nomes de mulheres.
No livro Lira dos Vinte Anos nos deparamos, em duas ocasiões, com o nome Ilná, a quem o poeta refere-se com as expressões: «ó minha noiva, minha doce virgem». Seria Ilná uma mulher real e presente na vida de Álvares ou mais uma idealização? Ilná é citada na poesia Anima mea (Ex.: Vem, Ilná: dá-me um beijo - adormeçamos...) e em Lembrança dos quinze anos. O título da segunda poesia é sugestivo e pode nos levar a conjecturar que essa moça esteve presente na adolescência do poeta e, seria plausível, que a mesma estivesse inserida, de algum modo, em sua rotina.
Se Ilná povoou, supostamente, os sonhos de adolescente, uma outra jovem, Teresa, lhe fez vibrar o coração no final de sua breve existência. Inclusive seu nome é título de uma poesia.
Junior (1971), quanto a isso, alega que «Teresa é, assim, a mais constante das musas do poeta. Em suas poesias aparecem outros nomes femininos, - Zoé, Inês, Haidéa, Anália, Armida, Madalena, Lélia, Consuelo – mas todas elas parecem meras realizações literárias». Álvares, em cartas ao primo Luis Antonio da Silva Nunes, confessa, primeiramente aos 17 e depois aos 18 anos, que não encontrara um novo amor (nesse ponto, podemos supor que Ilná, realmente, fora o primeiro amor) em São Paulo e que acreditava-se predestinado a morrer de amor sem que ninguém o amasse. Falando de Álvares de Azevedo, Manuel Bandeira refere-se ao «seu erotismo travado pela timidez», ao passo que Mário de Andrade defende que o poeta, por mais ousado que fosse em suas páginas literárias, tinha verdadeira fobia de amor sexual.
Mário de Andrade, em outra passagem, expõe a seguinte afirmação: «Álvares de Azevedo sofreu como nenhum, apavoradamente, o prestígio romântico da mulher. Pra ele a mulher é uma criação absolutamente sublime, divina e... inconsútil. O amor sexual lhe repugnava, e pelas obras que deixou é difícil dizer que tivesse experiência dele». Talvez seja por isso que o poeta, mesmo descrevendo intimamente a mulher, sempre a eleva ao título de virgem. Quando se estuda a vida do referido autor, é impossível não falar sobre a presença constante da mãe. Junior em Poesia e Vida de Álvares de Azevedo salienta que D. Maria Luisa sempre esteve presente na vida de Álvares, apaziguando suas dores. A pior delas é datada de quando, em férias da Faculdade, num passeio a cavalo, o poeta sofre um acidente e quarenta dias depois vem a falecer, aos 21 anos incompletos. O amor que nutria pela mãe ficou evidenciado em inúmeras poesias. Algumas foram redigidas unicamente com o intuito de homenageá-la. Para ilustrar a afirmação anterior, temos em À minha Mãe, mais precisamente na quinta estrofe: «Criatura de Deus, ó mãe saudosa/ No silêncio da noite e no retiro/ A ti voa minh'alma esperançosa/E do pálido peito o meu suspiro».
Para finalizar, recorro a Oliveira, quando a mesma afirma: «Todas as suas obras (de Álvares) foram editadas sob os cuidados de sua mãe, que sobreviveu mais 44 anos após sua morte. Dedicou-se, até os 84 anos, à perpetuação da memória e da obra de seu filho, e o primeiro livro que fez publicar foi Lira dos Vinte Anos». É verídico afirmar, como ressalta o presente estudo, que o referido poeta amou e muito, mas devido a ausência de uma mulher “real” que o correspondesse, ele canalizou todo o seu amor à poesia e à sua mãe. De uma forma brilhante, por sinal.

Simone Luiza Kovalczuk
Acadêmica de Letras da FAFIUV; Integrante do projeto Memórias Poéticas do Vale do Iguaçu.

3 comentários:

  1. muito bom, bem isso que eu precisava...

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  2. correção: o texto fala das mulheres na vida dele, não na obra

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  3. Oi tudo bem? li seu blog e achei muito interessante. Sempre tive muita dificuldade com literatura por favor, alguém poderia me ajudar nessa proposta de trabalho que participo de vários blogs e fóruns pra me ajudar, mas infelizmente ainda não conseguir me encontrar na literatura.a,arso fazer? Eis a proposta:
    Proposta: Leia, com muita atenção, o poema "Teresa", de Álvares de Azevedo (p. 14 da coletânea de poemas), e o poema "Boa-noite", de Castro Alves (p. 16 da coletânea de poemas). Para seu melhor entendimento, analise-os antes de iniciar o trabalho. Em seguida, prepare um texto, com caráter dissertativo, no qual você apresente uma análise comparativa entre os dois poemas, destacando a forma de representação da imagem feminina. Para tal, observe com atenção a forma como o discurso do sujeito lírico se organiza, as figuras de linguagem utilizadas, os recursos poéticos empregados.. Qualquer ajuda será muito bem vinda. Se possível um quanto antes. Desde já muito obrigado!

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