quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Um projeto geral da pátria do Rio Grande do Sul: A história de Simões Lopes Neto - urtiga! n°7


João Simões Lopes Neto (1865-1916), escritor regionalista gaúcho, iniciou sua carreira literária apenas nos últimos anos de sua vida. Apesar de ter trabalhado durante longos períodos como jornalista, foi publicar seu primeiro livro intitulado Cancioneiro Guasca, somente em 1910, portanto seis anos antes de sua morte.Quando nos deparamos com a obra desse literato do Sul, a primeira certeza que temos é que quem nos fala é um apaixonado por sua pátria e principalmente por seu Estado. Contudo, Lopes Neto quer com esse seu amor declarado pelo Rio Grande do Sul chamar nossa atenção para a figura do homem simples do campo, para a vida cotidiana da campanha, e para isso criou Blau Nunes, um gaúcho pobre que tem de seu somente o cavalo e as estradas. É Blau quem vai narrar os Contos Gauchescos (1912) e as Lendas do Sul (1913), sendo que muitas vezes, será também personagem dessas histórias populares que Simões transformou em eruditas. Ao utilizar-se e dar voz a Blau Nunes, Simões tinha a intenção de contar casos, lendas, mitos através de uma personagem popular, que fosse o símbolo desse homem do Sul. Ao pesquisarmos em suas biografias os dados que logo encontramos são seus fracassos financeiros e certamente esse foi um fator determinante para que a crítica só fosse reconhecer postumamente e porque não dizer tardiamente o valor de sua obra. Mas, ao adentrarmos no mundo simoniano o que descobrimos é um homem simples que encontrou na literatura seu sentido de existência e mais do que isso, nos deparamos com alguém que tinha como ideal de vida defender sua pátria, seu Estado. Lopes Neto queria ensinar as pessoas a amar a terra em que nasceram, através das histórias populares que contava. Exemplo desse seu nacionalismo explícito foi a conferência Educação Cívica, que realizou pela primeira vez na Biblioteca Pública Pelotense, em julho de 1904 e posteriormente em 1906, a qual tinha o intuito de relembrar a todos o quanto a paisagem do Rio Grande do Sul é carregada de história, - o escritor gaúcho criticava o esquecimento do nosso passado, inclusive fora do próprio Rio Grande. A partir desse momento define seu ideal, seu projeto patriótico, que se constituía em lutar contra o esquecimento provocado pelo silêncio dos brasileiros sobre o seu passado de lutas, na conquista do território e no trabalho da civilização. Sua conferência ainda fala sobre os defeitos e o potencial da valorização do nacional, sendo a educação base de tudo para que um dia o Brasil alcance o desenvolvimento cultural das grandes potências.E o que Simões pretendia com tudo isso? estudar tudo e todos, já que para ele contar a história do Rio Grande do Sul era sinônimo de contribuição à nação. Podemos então dizer que essa conferência de Lopes Neto é um canto de amor à sua pátria e a seu Estado, principalmente.João Simões Lopes Neto foi um simples homem culto, que produziu sua obra valorizando e enfatizando seu regionalismo e seu nacionalismo. Foi o escritor que deu espaço para as histórias populares, para seu povo pobre, porém, lutador, lembranças talvez de Simeão, seu amigo desde os tempos de criança, de sua infância na Graça, de seu pai, que vem retratado em alguns dos contos que integravam a edição dos Contos Gauchescos, como por exemplo, Juca Guerra e Deve um queijo. Foi um escritor culto que se apropriou do modo de vida simples da gente da campanha com suas várias histórias fantásticas, da literatura oral e popular, fazendo de tudo isso algo seu, retratado incansavelmente em sua obra e contada por alguém que Simões não foi, mas que talvez gostaria de ter sido: Blau Nunes.Ninguém foi mais gaúcho, mais amigo de sua terra e de seu povo e ninguém teve pelo Rio Grande amor mais profundo e telúrico que ele.


Elis de Paula,Graduada em Letras pela FAFIUV;Mestranda em Literatura Brasileira (UFSC)

Nenhum comentário:

Postar um comentário