quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Nana, as marcas do amor - urtiga! n°7


Desci a escada com violência, para matar. Nana espreitava a janela, com ar lívido como o frescor de toda manhã. Voltou-se e, segurando fortemente minhas nádegas rijas, disse estar cada vez mais apaixonada. Não compreendi.Em um gesto tresloucado arranquei-lhe o brinco de argolas das orelhas, fazendo o sangue escorrer pelo seu lindo pescocinho. Sempre gostei dos contrastes e ver o rubro refletindo a lividez do meu anjo fez-me mais feliz. Adorei vê-la correndo até o banheiro para estancar o sangue, vestindo uma camisola transparente que definia com perfeição o contorno dos seios, já sujos com o líquido vital. Esperei que fizesse o curativo e agarrei-a com força. Nana sorriu e disse que me amava. Quando tentei possuí-la no banheiro, de forma rápida manipulou a tesoura, cortando minha barriga. Ela é boa em tudo o que faz. Ver meu sangue escorrendo fez com que risse sem parar. Minha vez de fazer o curativo. Nana sabia que a hora estava chegando, por isso desapareceu. Procurei-a pela casa toda, só a encontrei porque tinha crises de soluço. Não tive coragem de matar, seu soluço me afligia. Calculando cada passo dado por Nana imaginei que seria no corredor. Escondi-me atrás da pilastra para devorá-la. Na mão uma faca. Adoro, adoro, adoro, adoro sangue, pensei. Quando Nana saiu do quarto usando uma roupa vermelha, não gostei, indubitavelmente ofuscaria o meu objeto de desejo. Ela sabia desse fato. Eu já falei que Nana é boa em tudo o que faz? Tomamos café junto, ela preparou torradas com geléia e café com leite. Ela é boa demais, por isso a odeio. Hoje, quando o papa rezar a última missa, a santa vai para o céu. Repeti isso o resto do dia. À noite, quando íamos dormir, esperei que colocasse outra camisola transparente. Com força, cravei-lhe a faca na barriga. Desesperada, olhou para mim e disse que me amava. Eu não disse que era santa? Por isso não poderia viver comigo, livrei-a disso. Nana morreu de hemorragia uma hora depois, só então pude dormir em paz.
Maria Celina KeitoAcadêmica de Letras da FAFIUV

Nenhum comentário:

Postar um comentário