terça-feira, 19 de maio de 2009

Criação Literária: mini-conto - urtiga! nº3



Promessa é dívida!



Conversa vai... Caneco vem... Lelo já estava sentado no balcão, já meio embriagado quando Damastor se aproxima trançando as pernas e indaga:
- Nossa Lelo... Já cansou? Está com uma cara de quem quer chamar o Hugo... Você é meu camarada, pra não sair no prejuízo, deixa que eu tomo seu último caneco.
Terminado de tomar todo o caneco em apenas uma virada, apoiou-se no ombro de Lelo e disse:
- Você sabe que é meu melhor amigo. Eu o tenho como um irmão...
- Então façamos uma promessa: Quem morrer primeiro aparecerá para o outro.
- Você que me apareça que dou-lhe um tiro de espingarda...
No dia seguinte, chega a notícia de que Damastor fôra atropelado por um caminhão. Passado o tempo, Lelo se vê casado e, no quarto, deitado com sua mulher. Meia-noite, ao olhar para a porta de seu quarto, vê um vulto, e ouve ranger o assoalho. Deve ser o vento. E ao olhar novamente, lá estava a última imagem vista por ele, a de Damastor, fixo a olhá-lo, com apenas metade da cabeça. Ele cutuca a mulher e aponta para a porta, afirmando que o falecido amigo estava ali. Ela, ainda sonolenta, desconfia do marido. Lelo, volte a dormir!
Essas aparições tornam-se rotineiras. Toda noite, o espectro de seu amigo o observava dormir, até que uma noite ele deixou a espingarda na cabeceira de sua cama, à espera do falecido. Sua mulher chegou a pensar que ele tinha voltado a beber com toda aquela maluquice. Chegado o momento esperado, lá estava ele a observá-lo novamente. Lelo pega a espingarda e aponta para o espectro que, sorrindo, desaparece para não mais voltar.
Lelo admirado com aquele episódio sorri e diz:
- Ainda querem me convencer de que bêbado não lembra do que fala...

Sabrina Pedroli,
acadêmica de Letras da FAFIUV

Ilustração: Oscar Niemeyer

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