
Muitos dos leitores ignoram a sistematização embrenhada em chãos conceituais, muitos deles mantêm a leitura por hábito (ou vício) de ver e sentir nas palavras dos criadores (iguais a nós!) uma razão e lugar no mundo, ou, pelo contrário, um desdizer da fonte que a tantos arrebata; um não estar só antes às peripécias que o mundo e a vida nos dão, ou puramente se largam à tarefa de sentir com exclusiva fruição muito do que é visto como imposição nas salas universitárias. A literatura existe, de fato, como meio de vida, como possibilidade. Conversamos com pessoas totalmente fora do ambiente em que se professa a arte sistematizada e delas tiramos as mais entusiásticas considerações sobre obras literárias que ninguém lhas impôs. O problema me parece, é que muitos dos que estudam a literatura pensam que ela é o didatizar da poesia (por exemplo) como arte de gente morta, como um passado que se quer presente por um saudosismo extremado, não atentando a pura realidade de que literatura é viva, é vida e está em tudo.
Pensar na literatura e na disseminação do pensamento não é menosprezar o empenho científico que a ela damos, mas nos prender às correntes de um “quê” pré-estabelecido de verdades guardadas por profetas detentores do “real” saber, da “real” maneira de se fazer poesia (e literatura em geral) é maximizar a falácia de que tudo que é bom já foi feito, de que vivemos num tempo sem esperanças e de que no passado sobrevive o verdadeiro empenho humano de quem ainda se extasiava com coisas mais interessantes que as irracionalidades dos “reality shows”: febre contemporânea de muitos. Pensemos na literatura como dinâmica, como mais uma das expressões do ser humano, e não a limitemos somente às enciclopédias e aos arcabouços livrescos prenhes de formatações, que muitas vezes só a prendem e a deixam parecer um tabu contemplativo, habilidades dos homens de outrora.
A literatura, como a vida, expande o que antes se fez e se refaz a cada leitura que fazemos, basta que nos deixemos mais soltos às nossas vontades de apreciar, não só o inefável, mas o cotidiano e o comum que a literatura também retrata e representa.
Josoel Kovalski
Prof. de Literatura da FAFIUV
Ilustração: Old Man Reading Bible, de V. Van Gogh
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