Conhecido nome de nossas cidades, Túlio de França remete-nos a um dos colégios mais tradicionais das cidades. Seu patrono, cujo nome completo é João Túlio Marcondes de França, tem sua ascendência ligada a antigas famílias de Palmeira, Palmas e União da Vitória. O advogado e poeta Túlio de França é nascido em União da Vitória em 1888. Filho do Cel. Napoleão Marcondes de França e de Francisca Olímpia Silveira Marcondes, conclui o curso então chamado Humanidades, em Curitiba e, em 1912, bacharela-se em direito na cidade de São Paulo, exercendo a profissão de advogado e juiz. Desde cedo demonstra atração pela arte poética, e produz muito em sua vida acadêmica, tanto que algumas de suas poesias foram publicadas em revistas de sua época, tais como: O Diário da Tarde, Gazeta do Povo, Estado do Paraná, e Relâmpago – todas de Curitiba; O Progresso, Folha Rósea e Diário dos Campos de Ponta Grossa; Folha do Oeste, Guarapuava; A Faísca, O Correio da Semana, O Onze de Agosto, O Pirralho, A Cidade de São Bento, A Vida Moderna de São Paulo; O Palmense, A Cidade em Palmas; e em União da Vitória, O Rebate. Publicou também trabalhos que focalizam os mais variados aspectos sócio-econômicos do sul do Paraná, e inclusive funda, em parceria com vários intelectuais, um quinzenário humorístico chamado O Relâmpago. Segundo Filipak e Sicuro, (1976, p. 122) «Túlio de França, irmão do poeta Cícero de França, muito cedo demonstrou apurado gosto pela arte poética». Cícero, aliás, citando Montenegro, observa que o irmão «[...] viu a luz no interior do Paraná em 1884 e morreu tísico em Ponta Grossa em 1908, com menos de vinte e cinco anos de idade». O soneto selecionado pelo primeiro a título de amostra de sua poesia sugere doença, mas produzida por mau-olhado, por um «olhar sombrio, olhar triste, aziago». Versos de olhares sombrios e aziagos oriundos, talvez, de uma característica familiar, pois nos versos de Túlio de França encontramos esse mesmo quê sofredor, íntimo e sombrio.E seus poemas, dotados de um lirismo pessoal e um toque melancólico, são pouco divulgados e conhecidos. Seu talento artístico com extremo lirismo e um toque aveludado de melancolia não poderiam passar em branco. Os versos funerários exalam o sentimento vazio diante de sonhos desfeitos, de nostalgia, de cansaço, de uma alma de poeta que sofreu, derramando seu pranto artístico em versos parnasianos. Sicuro, prefaciando a publicação organizada pela FAFI em 1974 de «Flores de Inverno», comenta que «A lira de Túlio de França é triste, toda voltada para o seu íntimo vazio de alegrias, e cujo tema central é a sua própria melancolia». Essa publicação reúne boa parte das composições do poeta que cantava as suas dores em tons regionais, exaltando uma beleza lúgubre e nem por isso menos cativante. «Flores de Inverno», parte da coleção «Vale do Iguaçú», foi o resultado da reunião de poemas escritos em meados de 1912 e guardados pelo filho de Túlio de França, Ossian França. Por meio do trabalho do Departamento de Letras, então compostos pelos professores: Nelson Antônio Sicuro, Fahena Porto Horbatiuk, Francisco Filipak, mais um poeta de nossas cidades foi exaltado. A publicação deste livro apresenta pérolas literárias como «Ancião Precoce», «Ao Som de um Piano», «Mendigo», «Pinheiro», somente para citar alguns. Túlio de França é o criador e recriador de seu próprio mundo poético, exaltando a sua melancolia em lânguidos e cândidos versos de musicalidade e ritmo impecáveis.
Emili Albuquerque
Acadêmica de Letras da FAFIUV
Poemas de Túlio de França
Ao Som de Um Piano
Piedosas mãos, valsai sobre os teclados,
Assim! piedosas mãos, porque parece
Que minha alma de ancião rejuvenesce
E voa, em meio desses sons alados.
Levanto-vos as mãos, ó mãos, em prece
E em nome enfim dos seres mais amados
Imploro, exijo compaixão. Calados,
Perderei a ilusão que me engrandece
A vida; ouvindo esses soluços fundos,
Remonto o meu passado e sonho mundos
Mundos de sonho, numa vida infinita!
Piedosas mãos sagradas, que eu adivinho
Leves e tênues, brancas como arminho,
Não pareis mais a música bendita.
Mendigo
Bendita luz, bendito sol. Inverno!
E o vento passa uivando... E o frio passa...
Em cada riso a minha mágoa externo
E tu, mendigo, choras, na desgraça.
Queres calor, e o frio é sempre eterno,
Sonhas com luz e a luz é sempre escassa.
E curvado, num pranto sempiterno
Negas a luz, o sonho e a etérea graça.
Mas eu me rio, e a minha alma ufana
Ordeno: vai, mas ri e a cada hora
Desdobra ao mundo as alvacentas plumas!
Esquece a dor e a própria vaga humana
E vai voando mar da vida em fora
Qual nau cortando um turbilhão de espumas!
Pinheiro
Um só pinheiro havia em todo aquele grande
Mar de campos. Um só! Esguio, a copa em taça.
De cada espinho um ai, altivamente espande
O fantasma da noite, o fantasma a quem passa.
E assim ele viveu – os galhos para cima,
Numa súplica eterna, em eterno lamento.
Compondo um verso
À treva, ao sol erguendo a rima,
Fecundo Prometeu – risos soltos ao vento!
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