terça-feira, 14 de abril de 2009

Porque a modernidade de Bandeira se atualiza a cada dia - urtiga! nº2



A poesia de Bandeira é marcada por uma forte subjetividade, característica de um poeta que mergulhou na essência primordial das coisas e não para a contingência externa e efêmera das modas e das grandes correntes literárias, ou mesmo de qualquer datada modernidade, por isso mesmo mais intemporal e duradoura

Os versos livres e a simplicidade fizeram Manuel Bandeira dar vida à sua poesia. A musicalidade presente em muitos poemas, como “Os sapos” e “Trem de ferro”, parece nos levar ao momento exato do fato, provoca nossos sentidos e nos faz viajar por entre linhas e entrelinhas, que se alinham e desalinham, e transbordam da folha de papel.
Poeta de uma poesia muito particular, despertou o interesse pela literatura aos dezoito anos, quando se deparou com a doença que, naquela época, era o “mal do século”, a tuberculose. Diz-se que foi a “morte que deu vida” à sua poesia. Em uma viagem à Suíça, em virtude de tratamento de saúde, Bandeira conheceu muitos nomes da literatura universal, sendo que esses autores muito influenciaram a produção poética do autor. Entre esses nomes, destacam-se Sá de Miranda, Camões, Bocage, Antero de Quental e Antônio Nobre. Escreveu seus primeiros versos (livres) sob a influência de Apollinaire, Charles Cros, Mac-Fionna Leod.
Além de poeta, Manuel Bandeira foi tradutor de fortes nomes da literatura mundial, como Marcel Proust, Friedrich Schiller, Willian Shakespeare e Jean Cocteau. Exercia essa função de maneira esplendorosa, uma vez que era detentor de um conhecimento das literaturas francesa, inglesa, italiana, alemã, espanhola, e norte-americana.
Manuel Bandeira é um grande nome da literatura brasileira. Marcou o início do movimento modernista em 1922, tornando-se rapidamente conhecido como o maior poeta no manejo do verso livre. Tomava como tema o cotidiano, o corriqueiro, escrevendo de maneira simples e de fácil compreensão. Sua trajetória poética revela uma busca incessante por novas formas de expressão. Em suas primeiras obras pode-se perceber que há poemas parnasiano-simbolistas. A libertação das obras fixas ocorre no segundo livro, Carnaval, e é a partir daí que o cotidiano passa a fazer parte da temática poética do autor.
Mas o que torna Bandeira um poeta inesquecível? Ora, diz-se que tudo que causa estranhamento revela-se como uma inquietação, curiosidade. A poética do autor era extremamente intimista, melancólica. Além disso, há muito de uma vida que espera a morte em seus poemas. Faz-se importante ressaltar que o autor escrevia porque não podia mais fazer nada! Era, como ele mesmo dizia, um doente que esperava a morte chegar. E é exatamente essa impressão de falsa resignação que nos causa estranhamento.
Mas, além desses aspectos todos, há um lado bandeiriano que muitos não conhecem: o do Bandeira provinciano, pernambucano que lembra a Recife como a Pasárgada de seus sonhos; o do Bandeira menino, que foi feliz como os demais; o do Bandeira apaixonado, que descobre o amor e ama com muita intensidade. Em seus versos, há uma misteriosa paixão pelas coisas simples da vida, e ele retrata tudo, desde o porquinho-da-índia que ganhou quando criança, até uma notícia de jornal; desde os tempos de infância, em que Recife se imortalizou na imaginação do poeta como o paraíso, até uma consulta médica.
É essa a magia dos versos de Manuel Bandeira, a paixão por tudo que o cercava, tudo ganhava vida perante seus olhos. Era capaz de transformar qualquer coisa com seu lirismo moderno. A simplicidade e o lirismo estavam sob a mesma pena.

Ana Cláudia Zan
Acadêmica de Letras da FAFIUV



Desencanto

Eu faço versos como quem chora
De desalento. . . de desencanto. . .
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.

Meu verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.

E nestes versos de angústia rouca,
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.

– Eu faço versos como quem morre.
M. Bandeira

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