sábado, 4 de julho de 2009

Tradução: Rainer Maria Rilke - urtiga nº5

Rainer Maria Rilke (1875 - 1926) foi um dos mais importantes poetas de língua alemã do século XX. Nasceu em Praga, na República Tcheca, então pertencente ao império austro-húngaro. Em 1894 fez sua primeira publicação, uma coleção de versos de amor, intitulados Vida e canções (Leben und Lieder). Alguns anos depois, em 1899, Rilke viajou para a Rússia, país que imprimiu uma inspiração religiosa em seus poemas. Rilke passou a enxergar a natureza, dada as dimensões e exuberância das paisagens russas, como manifestação divina presente em todas as coisas. O século XX trouxe para a poesia de Rilke um afastamento do lirismo e dos simbolistas franceses com os quais ele se identificara. Em 1905, publicou O Livro das Horas de grande repercursão à época. Rilke possui uma obra original, marcada pelo tratamento da forma e pelas imagens inesperadas. Celebra a união transcendental do mundo e do homem, numa espécie de “espaço cósmico interior”. Sua poesia provocava a reflexão existencialista e instigava os leitores a se defrontarem com questões próprias do desencantamento da primeira metade do século XX.


Poemas e Tradução (Josoel Kovalski; prof. de Literatura da FAFIUV)


Da neigt sich die Stunde und rührt mich an
mit klarem metallenem Schlag:
mir zittern die Sinne. Ich fühle: ich kann --
und ich fasse den plastischen Tag.

Nichts war noch vollendet, eh ich es erschaut,
ein jedes Werden stand still.
Meine Blicke sind reif, und wie eine Braut
kommt jedem das Ding, das er will.

Nichts ist mir zu klein, und ich lieb es trotzdem
und male es auf Goldgrund und groß
und halte es hoch, und ich weiß nicht wem
löst es die Seele los ...
Viram-se as horas e me despertam
Com a clareza de um toque a vagar:
Meus sentidos tremem. Eu sinto que posso
Do maleável dia a forma moldar.

Nada completo a mim se apresenta
Tudo com calma está a se formar
Meu olhar, pronto está, tal qual uma noiva
Que se ganha, ele quer desejar.

Nada é pequeno, tal amor que eu sinto
E pinto na dourada terra tão vasta
Retenho-a no alto, e não sei por quem
Solta a alma no mundo se larga...



Herr: es ist Zeit. Der Sommer war sehr groß.
Leg deinen Schatten auf die Sonnenuhren,
und auf den Fluren laß die Winde los.

Befiel den letzten Früchten voll zu sein;
gib ihnen noch zwei südlichere Tage,
dränge sie zur Vollendung hin und jage
die letzte Süße in den schweren Wein.

Wer jetzt kein Haus hat, baut sich keines mehr.
Wer jetzt allein ist, wird Es lange bleiben,
wird wachen, lesen, lange Briefe schreiben
und wird in den Alleen hin und her
unruhig wandern, wenn die Blätter treiben.

Senhor: é tempo. O verão foi muito grande,
Deitai vossa sombra sobre o relógio-de-sol,
E sobre os campos deixai que os ventos vão.

Comandai das últimas frutas a completude;
Dê a elas mais dois dias de sul,
Impulsione-as a continuar e buscar
A última doçura do vinho forte.

Quem agora não tem casa, não construirá mais.
Quem agora está sozinho, assim permanecerá,
Despertará, lerá, escreverá longas cartas
E por alamedas perambulará
Sem descanso, se as folhas brotarem.

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